Divagações: American Hustle

Com um elenco talentoso, um diretor com muito potencial e dez indicações ao Oscar , American Hustle tem tudo para ser memorável. Apesar ...

Com um elenco talentoso, um diretor com muito potencial e dez indicações ao Oscar, American Hustle tem tudo para ser memorável. Apesar de não compartilhar todo esse hype que surgiu em torno da obra, não deixo de estar empolgado para assistir o novo filme de David O. Russell, afinal, tanto Silver Linings Playbook quanto The Fighter se mostraram como ótimos filmes.

Contudo, essa expectativa toda acabou sendo mais nociva do que benéfica para mim. Saí do cinema com sentimentos conflitantes. Claro que American Hustle havia sido um filme bacana, mas qual era o motivo de tamanho falatório quando o filme não é assim tão impressionante?

A trama segue Irving Rosenfeld (Christian Bale) e Sydney Prosser (Amy Adams), uma dupla de golpistas que alcançaram o sucesso explorando a recessão que atingiu os Estados Unidos no fim dos anos 1970. Após serem pegos pelo agente do FBI Richie DiMaso (Bradley Cooper), os dois são obrigados a trabalhar para o governo em troca da sua liberdade, empregando seus conhecimentos sobre o mundo do crime para desbancar outros golpistas como eles. Porém, o plano de Richie acaba tomando proporções cada vez maiores, colocando o grupo de frente com um grande esquema de corrupção que pode colocar a vida de todos em risco.

Apesar dos inúmeros elogios que podem ser feitos ao elenco, senti que as atuações carecem de substância. Christian Bale, mesmo entregando uma interpretação de alto nível, não mostra nada de novo ou especial; Amy Adams está um pouco melhor, mas não consigo deixar de pensar que sua personagem é um pouco inconsistente e acaba prejudicando o resultado final da obra. Assim, a única que se destaca um pouco mais é Jennifer Lawrence, que acaba dando mais valor à história com uma personagem capaz de dar tensão e imprevisibilidade a trama.

O roteiro é bem escrito, mas se foca demais nas interações entre os personagens – que não são lá assim tão interessantes –, deixando de lado as situações com as quais eles se deparam. No final, esta acaba não sendo uma escolha sábia, já que em filmes sobre crimes, golpes e gente tentando ser mais esperta que os outros, a construção de um grande clímax acaba é fundamental, faltando uma resolução satisfatória e coerente dentro da tensão criada durante a trama.

Para não dizer que não existem pontos positivos, a direção e a edição são muito boas, dando um bom ritmo ao filme, que consegue entreter durante mais de duas horas. Os diálogos são bons e conseguem ser engraçados sem perder a sutileza, sendo bem trabalhados por todo o elenco. E não há como deixar de falar o figurino, que adiciona uma camada involuntária de humor com todo o exagero escalafobético do fim da década de 1970, casando bem com a trilha sonora bem pautada no jazz e nas musicas da era disco.

Mesmo que esse seja um filme sólido e divertido, é inegável que fica abaixo das enormes expectativas que circundavam a obra, decepcionando quem esperava um resultado memorável. Talvez seu destaque se dê pelo excelente timing para a temporada de premiação e pelo elenco composto por muitos dos novos queridinhos do grande público, porém, em termos de qualidade falta aquele fator intangível que separa um filme excelente de um apenas bom.

Apesar de valer a pena dar uma conferida, se você tiver que escolher apenas um filme sobre crimes neste início de ano, prefira The Wolf of Wall Street que, mesmo com todos os seus problemas, é um filme com bem mais substância e paixão do que o ameno American Hustle.

Outras divagações:


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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