Divagações: Frank

Um filme protagonizado por um cara dentro de uma cabeça de papel machê gigante. É óbvio que vai chamar atenção. Mas quando você descobre ...

Um filme protagonizado por um cara dentro de uma cabeça de papel machê gigante. É óbvio que vai chamar atenção. Mas quando você descobre que esse cara, na verdade, é Michael Fassbender, bom, simplesmente não dá para ignorar.

Frank conta a história de um músico um tanto quanto estranho, cercado de gente problemática. Don (Scoot McNairy) é o empresário/produtor com passagem por instituições psiquiátricas; Clara (Maggie Gyllenhaal) é a criativa arrogante e desestimulante; Baraque (François Civil) convive com a banda, mas finge que não sabe falar inglês; e Nana (Carla Azar) é uma baterista quietona. Por um acaso do destino, o sonhador jovem músico Jon Burroughs (Domhnall Gleeson) entra para a banda de malucos e começa a lutar para conseguir se enturmar.

Essa jornada sobre música, criatividade, loucuras, amizades e desejos traz um pouco de tudo e muito de nada. O filme é divertido e maluco, mas o único personagem com o qual o público pode se identificar é Jon – e ele não é exatamente a pessoa mais legal. Queremos saber mais sobre Don, Clara e, principalmente, Frank, mas eles não querem se abrir para o protagonista e nem para o espectador. São propositalmente inalcançáveis.

Para quem não se importa muito com isso, entretanto, o filme pode ser encarado como um mergulho em uma adolescência tardia e muito mais divertida. O diretor Lenny Abrahamson se esforçou para conseguir equilibrar um grande número de boas ideias – e deu conta do recado. Cada personagem que Jon encontra, incluindo os absolutamente secundários, acrescenta um detalhe para a bizarrice do mundo, algo no qual o roteiro cheio de boas sacadas de Jon Ronson e Peter Straughan ajuda um bocado.

A propósito, o filme é levemente baseado nas experiências de Jon Ronson como membro da banda de Frank Sidebottom, mas apenas levemente. Toda a ambientação foi mudada, assim como a época e a própria personalidade do personagem, já que Sidebottom é comumente associado à comédia. Para quem quiser ter mais contato com a história real, uma boa notícia: deve ser lançado em breve o documentário Being Frank: The Chris Sievey Story.

E o cara com uma cabeça de papel machê desse filme? Michael Fassbender é fantástico em sua expressão corporal e topou todo o tipo de situação. Ele canta, briga e, principalmente, paga muitos micos ao longo dos 95 minutos de Frank. Para quem por ventura questione seu trabalho como ator, vale lembrar que, ao menos aqui, ele aparece desprovido de vaidades, boa aparência e sex appeal.

Na verdade, o filme questiona fortemente a fronteira entre genialidade e simples maluquice. Ao mesmo tempo, fica a quesito de cada um fazer essa classificação (para qualquer um dos lados) ou não. O que eu posso dizer é que muitas pessoas brilhantes se entregaram a esse projeto e que ele é muito particular e especial. Obviamente, não é perfeito, mas acho que ninguém pediu por isso.

Engraçado dentro do drama, dramático dentro da loucura, louco dentro da música. Frank é um filme que atiça a curiosidade, mas que também assusta, sendo bem menos visto do que merecia. Boa parte de sua visibilidade se deve ao elenco com nomes famosos, mas a sua longevidade vai depender do surgimento de um público cativo. E acredito que ele não deva demorar a surgir. Chinchila!

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