Divagações: Independence Day: Resurgence

Para quem cresceu nos anos 1990, Independence Day foi talvez o blockbuster quintessencial. Com seus efeitos especiais de encher os olhos,...

Para quem cresceu nos anos 1990, Independence Day foi talvez o blockbuster quintessencial. Com seus efeitos especiais de encher os olhos, um plot que dava motivo o suficiente para vermos cidades inteiras explodindo e uma pitada de humor, o filme ajudou a propelir aquela onda de obras sobre catástrofes que apinhou os cinemas na segunda metade da década.

Tal como Jurassic World, que ano passado dispendeu certos esforços para reviver aquele clima nostálgico da franquia, Independence Day: Resurgence aparece vinte anos depois, com as mesmas ambições de nos levar para uma época um pouco mais simples e bem mais brega do cinema – e, quem sabe, conquistar o público mais novo.

Aliás, vou admitir que, mesmo considerando Independence Day um filme icônico da sua época, não lembrava lá de muitos detalhes do enredo do primeiro filme além do óbvio: alienígenas atacam e os seres humanos destroem a nave mãe com um vírus de computador. Felizmente, a produção não está lá muito preocupada em fazer que algo mais complexo do que isso seja relevante para a história.

Literalmente, vinte anos se passaram desde o ataque dos alienígenas do primeiro filme. Nesse meio tempo, unidos pelo inimigo em comum, todos os países do planeta vivem em paz, com a tecnologia dos antigos inimigos sendo usada para o benefício da raça humana.

Alguns dos personagens do filme passado continuam por aí, como é o caso do professoral David Levinson (Jeff Goldblum) e do ex-presidente Whitmore (Bill Pullman), ainda lidando com as consequências dos ataques, enquanto outros – como os jovens Jake Morrison (Liam Hemsworth) e Dylan Hiller (Jessie T. Usher), filho do capitão Steven Hiller (Will Smith) –, vão tocando suas vidas nessa nova sociedade. Porém, como algo sempre dá errado, não é de surpreender que os alienígenas retornam em busca de vingança e ainda mais fortes, fazendo com que a raça humana tenha de se unir novamente para evitar a aniquilação.

Novamente, o roteiro de Independence Day: Resurgence só serve para dar desculpas para vermos o mundo sendo aniquilado por uma nave tão gigantesca que tem seu próprio campo gravitacional e atravessa o oceano atlântico inteiro. Apesar de que algumas críticas poderem ser feitas a ausência de mais cenas dos alienígenas devastando cidades ao redor do mundo – afinal, é por isso que estamos aqui! –, o filme ainda se segura com efeitos especiais muito bons e uma ação que bebe um pouco da escola pós-Michael Bay, com uma câmera mais fluída e sequências mais longas, inclusive com cenas de combate aéreo que remetem a Star Wars: Episode VII - The Force Awakens.

Os personagens não são lá muito bem representados e o carisma de Will Smith faz um pouco de falta – Jeff Goldblum acaba compensando um pouco, nesse caso. Mesmo que o filme tente compensar sendo bastante leve e não se levando muito a sério, o humor não está exatamente ‘no ponto’, faltando um pouco de tempo para nos importarmos com os personagens. Esses problemas talvez sejam intensificados pela necessidade de espremer o filme em duas horas, pois, para lidar com todos esses elementos, precisaríamos de um roteiro mais enxuto ou de mais meia hora de filme.

Outra coisa interessante é o esforço de inserir personagens bastante diversos no elenco, talvez em contraponto com o americanismo exacerbado do longa-metragem anterior ou dessa sensação de ‘unidade mundial’ que a obra quer passar. Temos uma presidente americana mulher, paramilitares africanos, uma piloto chinesa (com mais de uma cena claramente voltadas ao público chinês, como é de praxe hoje em dia), entre outros. Ainda que isso soe um pouco artificial em sua execução, pelo menos mostra uma intenção interessante da produção.

A verdade é que Independence Day: Resurgence é um filme meio estúpido e talvez seja estúpido do jeito bom.  Ainda que seja descompromissado, não apela para nada pueril demais ou simplesmente de mau gosto. A ação é bem balanceada, evitando a síndrome de Transformers (cenas de ação de quase quarenta minutos que chegam a se tornar cansativas).

Esse é o tipo de filme que você gosta sem muito motivo, mas que também não faz o público sair da sala extremamente empolgado. Mesmo que eu não ache que ele será capaz de se tornar tão icônico quando seu predecessor, Independence Day: Resurgence consegue revitalizar a franquia, sendo um filme competente para desligar a cabeça, relaxar e ver alguns pontos turísticos sendo explodidos – mas nada mais do que isso.

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

RELACIONADOS

0 recados