Divagações: Warcraft
2.6.16
Se existe algo do qual sou suspeito para falar é de Wacraft – não necessariamente do filme, mas da franquia como um todo. Depois de quatro jogos, dezenas de livros e mais um punhado de outros produtos originados da série – a maior parte consumidos por aquele que vos escreve –, não dá para negar que existe uma relação muito distinta entre quem nunca ouviu falar de Azeroth e quem literalmente passou anos de sua vida dentro dela.
Assim, qualquer impressão que eu tenha sobre o filme que adapta (ainda que de forma meio liberal) o primeiro jogo da série, lançado originalmente em 1994, será necessariamente distorcida por esse contato prévio. Algumas ausências completamente imperceptíveis podem se tornar motivos para torcer o nariz; algumas referências minúsculas podem ser o motivo para júbilo; como eu falei, não sou lá muito isento.
Vindos de um planeta a beira do colapso e liderados pelo bruxo Gul'dan (Daniel Wu), os bestiais orcs chegam ao mundo de Azeroth com planos de conquista. Logo irrompe um conflito com os humanos de Stormwind, restando ao comandante das forças militares humanas, Anduin Lothar (Travis Fimmel) liderar a defesa do reino, contando também com a ajuda do jovem mago Khadgar (Ben Schnetzer) e de seu antigo mestre, o guardião Medivh (Ben Foster). Porém, as práticas sinistras de Gul'dan acabam gerando inimigos mesmo dentro das tropas dos orcs, como é o caso do chefe tribal Durotan (Toby Kebbell), que questiona as intenções reais do bruxo e pondera sobre a possibilidade de paz com seus novos inimigos.
Para quem não está habituado, esse excesso de personagens e histórias pode ser meio desconcertante, mas quem já conhece o material original tem tudo para se sentir em casa. Afinal, ainda que escorregue em alguns pontos, a direção de Duncan Jones é extremamente caprichada em inserir todos aqueles pequenos elementos visuais distintos pelos quais o mundo de Warcraft é conhecido. Das paisagens e da geografia às armas e armaduras, tudo é uma recriação bastante fidedigna do universo que a Blizzard Entertainment apresentou em todos estes anos – o suficiente para deixar qualquer fã de olhos marejados.
E nesse ponto não há como subtrair um ponto do filme, ele é extremamente bonito e até a computação gráfica usada nos orcs – ponto que foi motivo de temor por muito tempo para mim –, é extremamente convincente e bem-feita, acompanhando bem o resto do visual e dando aquele aspecto colorido e vibrante característico da direção de arte de Warcraft (ainda que falte um pouco do senso de humor que o acompanha). Em um claro contraste aos tons sóbrios e escuros das trilogias The Lord of The Rings e The Hobbit, esse talvez seja o único representante recente de uma obra de high fantasy nos cinemas, gênero qual eu aprecio particularmente.
Por outro lado, ainda que o filme como adaptação seja algo digno de elogios, Warcraft está longe de ser uma produção acessível. Conceitos são despejados sem explicações prévias, detalhes fundamentais são omitidos e certas resoluções são deixadas de lado muito rapidamente, provavelmente deixando quem nunca teve contato com o jogo em uma confusão plena. Somando isso ao visual exagerado (que para alguns é uma qualidade, mas não é exatamente o padrão da indústria), os marinheiros de primeira viagem podem ficar receosos em comprar a ideia por trás do filme. Sem aquela preocupação da Marvel em inserir aos poucos o espectador em um universo maior, Warcraft pode mais espantar os novatos do que atrair gente nova para esse universo.
Estranhamente, apesar de ter um pouco de pressa para apresentar esse universo tão amplo, Warcraft claramente constrói sua história visando dar origem a uma sequência. Diversas pontas são deixadas soltas e vários elementos pipocam aqui e ali para serem resolvidos depois, ainda que os fãs possam muito bem questionar porque certos aspectos não foram bem desenvolvidos. Do outro lado, os dramas pessoais que poderiam ser mais acessíveis ao grande público se mostram meio superficiais e forçados. Tudo isso me leva a questionar se duas horas eram o suficiente para lidar com uma carga tão grande de informação quanto o filme se propõe a apresentar.
Warcraft tem suas falhas, mas, ainda assim, essa é a melhor adaptação de um videogame já feita e, basicamente, é um presente para todos os fãs da série. Infelizmente para Duncan Jones, nem só de boas intenções vive um filme. A produção tem suas falhas e não serve bem como uma porta de entrada para esse universo e não tem nenhum elemento particularmente chamativo para quem vê de fora. Mesmo assim, não consigo deixar de torcer para que a franquia cinematográfica dê certo. Afinal, quero ver mais deste mundo transposto para os cinemas, sobretudo porque é uma unanimidade que esta não é exatamente a história mais interessante dentro de um universo com muito potencial.
Outras divagações:
Moon
Texto: Vinicus Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
Assim, qualquer impressão que eu tenha sobre o filme que adapta (ainda que de forma meio liberal) o primeiro jogo da série, lançado originalmente em 1994, será necessariamente distorcida por esse contato prévio. Algumas ausências completamente imperceptíveis podem se tornar motivos para torcer o nariz; algumas referências minúsculas podem ser o motivo para júbilo; como eu falei, não sou lá muito isento.
Vindos de um planeta a beira do colapso e liderados pelo bruxo Gul'dan (Daniel Wu), os bestiais orcs chegam ao mundo de Azeroth com planos de conquista. Logo irrompe um conflito com os humanos de Stormwind, restando ao comandante das forças militares humanas, Anduin Lothar (Travis Fimmel) liderar a defesa do reino, contando também com a ajuda do jovem mago Khadgar (Ben Schnetzer) e de seu antigo mestre, o guardião Medivh (Ben Foster). Porém, as práticas sinistras de Gul'dan acabam gerando inimigos mesmo dentro das tropas dos orcs, como é o caso do chefe tribal Durotan (Toby Kebbell), que questiona as intenções reais do bruxo e pondera sobre a possibilidade de paz com seus novos inimigos.
Para quem não está habituado, esse excesso de personagens e histórias pode ser meio desconcertante, mas quem já conhece o material original tem tudo para se sentir em casa. Afinal, ainda que escorregue em alguns pontos, a direção de Duncan Jones é extremamente caprichada em inserir todos aqueles pequenos elementos visuais distintos pelos quais o mundo de Warcraft é conhecido. Das paisagens e da geografia às armas e armaduras, tudo é uma recriação bastante fidedigna do universo que a Blizzard Entertainment apresentou em todos estes anos – o suficiente para deixar qualquer fã de olhos marejados.
E nesse ponto não há como subtrair um ponto do filme, ele é extremamente bonito e até a computação gráfica usada nos orcs – ponto que foi motivo de temor por muito tempo para mim –, é extremamente convincente e bem-feita, acompanhando bem o resto do visual e dando aquele aspecto colorido e vibrante característico da direção de arte de Warcraft (ainda que falte um pouco do senso de humor que o acompanha). Em um claro contraste aos tons sóbrios e escuros das trilogias The Lord of The Rings e The Hobbit, esse talvez seja o único representante recente de uma obra de high fantasy nos cinemas, gênero qual eu aprecio particularmente.
Por outro lado, ainda que o filme como adaptação seja algo digno de elogios, Warcraft está longe de ser uma produção acessível. Conceitos são despejados sem explicações prévias, detalhes fundamentais são omitidos e certas resoluções são deixadas de lado muito rapidamente, provavelmente deixando quem nunca teve contato com o jogo em uma confusão plena. Somando isso ao visual exagerado (que para alguns é uma qualidade, mas não é exatamente o padrão da indústria), os marinheiros de primeira viagem podem ficar receosos em comprar a ideia por trás do filme. Sem aquela preocupação da Marvel em inserir aos poucos o espectador em um universo maior, Warcraft pode mais espantar os novatos do que atrair gente nova para esse universo.
Estranhamente, apesar de ter um pouco de pressa para apresentar esse universo tão amplo, Warcraft claramente constrói sua história visando dar origem a uma sequência. Diversas pontas são deixadas soltas e vários elementos pipocam aqui e ali para serem resolvidos depois, ainda que os fãs possam muito bem questionar porque certos aspectos não foram bem desenvolvidos. Do outro lado, os dramas pessoais que poderiam ser mais acessíveis ao grande público se mostram meio superficiais e forçados. Tudo isso me leva a questionar se duas horas eram o suficiente para lidar com uma carga tão grande de informação quanto o filme se propõe a apresentar.
Warcraft tem suas falhas, mas, ainda assim, essa é a melhor adaptação de um videogame já feita e, basicamente, é um presente para todos os fãs da série. Infelizmente para Duncan Jones, nem só de boas intenções vive um filme. A produção tem suas falhas e não serve bem como uma porta de entrada para esse universo e não tem nenhum elemento particularmente chamativo para quem vê de fora. Mesmo assim, não consigo deixar de torcer para que a franquia cinematográfica dê certo. Afinal, quero ver mais deste mundo transposto para os cinemas, sobretudo porque é uma unanimidade que esta não é exatamente a história mais interessante dentro de um universo com muito potencial.
Outras divagações:
Moon
Texto: Vinicus Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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