Divagações: Valerian and the City of a Thousand Planets
10.8.17
A ficção científica e a fantasia são gêneros tremendamente mal compreendidos pela indústria cinematográfica atual. Ainda que os filmes existam e sempre marquem presença (pelo menos no caso da ficção científica, que tem lugar cativo na história do cinema) é raro ver uma produção que se afaste muito da visão acinzentada e pessimista de um futuro não exatamente promissor. É óbvio que existem exceções – tanto que, vinte anos atrás, Luc Besson nos entregou The Fifth Element, um filme que nos mostrou um futuro exagerado e colorido, tão visualmente impactante era quase impossível esquecê-lo.
Valerian and the City of a Thousand Planets prometia ser uma espécie de sucessor espiritual do clássico trabalho do diretor francês. Baseado em um quadrinho criado por Pierre Christin e Jean-Claude Mézières, a obra original tem influências de outros quadrinistas famosos, como Moebius, e todo aquele charme meio retrofuturista meio art déco. Ao mesmo tempo em que a proposta parecia combinar perfeitamente com o trabalho de Luc Besson, ela também poderia ser mal compreendida por uma audiência internacional que não é exatamente fã do estilo não apologético e exagerado de se fazer ficção científica.
A história se passa séculos no futuro e muito longe da Terra. Valerian and the City of a Thousand Planets acompanha o personagem título (Dane DeHaan) e sua parceira Laureline (Cara Delevingne) em suas aventuras pelo espaço. Eles são agentes de uma espécie de governo central da humanidade e acabam se colocando em uma situação inesperada quando uma força desconhecida se aloja no coração de Alpha, uma colônia espacial que abriga milhares de espécies diferentes. O ocorrido atrai a atenção do comandante Arun Filitt (Clive Owen), que busca a cooperação dos habitantes de Alpha para rechaçar essa ameaça. Porém, a interferência de Valerian e Laureline mostra que nem sempre as coisas são o que parecem.
Ao longo da produção, as similaridades com The Fifth Element são bastante marcadas, especialmente o visual extremamente colorido e vibrante – talvez ainda mais por conta da tecnologia avançada dos dias de hoje –, mas que carrega algo de decadente. Mas os pontos em comum também incluem coisas não tão boas, como a história que dá mais voltas do que precisava para chegar até sua conclusão.
Aliás, os problemas não são poucos. Há personagens demais, tramas que não vão para lugar algum, um humor não lá muito afiado e algumas coisas que são realmente irritantes, como é o caso da personagem de Rihanna, que aparece e sai de cena sem influenciar em nada, mas cujo todo o tempo de tela é um martírio. Para completar, a direção de arte, mesmo sendo ótima, é atrapalhada pela computação gráfica não exatamente excepcional (ainda que competente). De certa forma, esse é um dos poucos filmes que talvez fosse realmente ajudado pelo 3D, mas que tomou a decisão de deixar o efeito de lado.
Mesmo assim, não dá para dizer que o longa-metragem não tenha uma identidade própria, justamente porque a interação entre seus personagens é bastante diferente da que vimos antes. Aliás, Valerian e Laureline funcionam bem como um par, a despeito da personalidade dos dois não ser exatamente bem delineada.
Com isso, Valerian and the City of a Thousand Planets não é exatamente profundo ou marcante. Mas o filme é certamente divertido e tem seus bons momentos, compensando seus problemas narrativos com um visual muito bom e coeso.
Ao mesmo tempo, o filme tem algo de mágico na maneira como captura o maravilhamento com o futuro, a infinita extensão do espaço e suas possibilidades. A cena de abertura – que mostra como a estação espacial internacional se tornou Alpha com o passar dos séculos – é emblemática ao mostrar que, com a cooperação e a boa vontade necessárias, a humanidade é capaz de fazer coisas incríveis. E sinto que estamos precisando de filmes que sejam menos cínicos em relação ao nosso futuro – até mesmo Star Trek com seu mundo pós-escassez só flertou com esse otimismo em Star Trek Beyond, o que faz falta para quem gosta de uma ficção científica mais ingênua de vez em quando.
Mas a recepção morna que Valerian and the City of a Thousand Planets teve nos cinemas é talvez a prova de que o grande público ainda tem um pé atrás com filmes que não dosam sua carga de fantasia e exagero. Por conta disso, talvez demore mais alguns anos para vermos outra obra tão visualmente inventiva nas telonas. Ainda que esse não seja o melhor dos filmes, ele certamente tenta fazer algo de diferente e, pelo menos em alguns campos, se sai muito bem. Só por isso já merece a minha recomendação.
Outras divagações:
Léon
The Fifth Element
The Family
Lucy
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
Valerian and the City of a Thousand Planets prometia ser uma espécie de sucessor espiritual do clássico trabalho do diretor francês. Baseado em um quadrinho criado por Pierre Christin e Jean-Claude Mézières, a obra original tem influências de outros quadrinistas famosos, como Moebius, e todo aquele charme meio retrofuturista meio art déco. Ao mesmo tempo em que a proposta parecia combinar perfeitamente com o trabalho de Luc Besson, ela também poderia ser mal compreendida por uma audiência internacional que não é exatamente fã do estilo não apologético e exagerado de se fazer ficção científica.
A história se passa séculos no futuro e muito longe da Terra. Valerian and the City of a Thousand Planets acompanha o personagem título (Dane DeHaan) e sua parceira Laureline (Cara Delevingne) em suas aventuras pelo espaço. Eles são agentes de uma espécie de governo central da humanidade e acabam se colocando em uma situação inesperada quando uma força desconhecida se aloja no coração de Alpha, uma colônia espacial que abriga milhares de espécies diferentes. O ocorrido atrai a atenção do comandante Arun Filitt (Clive Owen), que busca a cooperação dos habitantes de Alpha para rechaçar essa ameaça. Porém, a interferência de Valerian e Laureline mostra que nem sempre as coisas são o que parecem.
Ao longo da produção, as similaridades com The Fifth Element são bastante marcadas, especialmente o visual extremamente colorido e vibrante – talvez ainda mais por conta da tecnologia avançada dos dias de hoje –, mas que carrega algo de decadente. Mas os pontos em comum também incluem coisas não tão boas, como a história que dá mais voltas do que precisava para chegar até sua conclusão.
Aliás, os problemas não são poucos. Há personagens demais, tramas que não vão para lugar algum, um humor não lá muito afiado e algumas coisas que são realmente irritantes, como é o caso da personagem de Rihanna, que aparece e sai de cena sem influenciar em nada, mas cujo todo o tempo de tela é um martírio. Para completar, a direção de arte, mesmo sendo ótima, é atrapalhada pela computação gráfica não exatamente excepcional (ainda que competente). De certa forma, esse é um dos poucos filmes que talvez fosse realmente ajudado pelo 3D, mas que tomou a decisão de deixar o efeito de lado.
Mesmo assim, não dá para dizer que o longa-metragem não tenha uma identidade própria, justamente porque a interação entre seus personagens é bastante diferente da que vimos antes. Aliás, Valerian e Laureline funcionam bem como um par, a despeito da personalidade dos dois não ser exatamente bem delineada.
Com isso, Valerian and the City of a Thousand Planets não é exatamente profundo ou marcante. Mas o filme é certamente divertido e tem seus bons momentos, compensando seus problemas narrativos com um visual muito bom e coeso.
Ao mesmo tempo, o filme tem algo de mágico na maneira como captura o maravilhamento com o futuro, a infinita extensão do espaço e suas possibilidades. A cena de abertura – que mostra como a estação espacial internacional se tornou Alpha com o passar dos séculos – é emblemática ao mostrar que, com a cooperação e a boa vontade necessárias, a humanidade é capaz de fazer coisas incríveis. E sinto que estamos precisando de filmes que sejam menos cínicos em relação ao nosso futuro – até mesmo Star Trek com seu mundo pós-escassez só flertou com esse otimismo em Star Trek Beyond, o que faz falta para quem gosta de uma ficção científica mais ingênua de vez em quando.
Mas a recepção morna que Valerian and the City of a Thousand Planets teve nos cinemas é talvez a prova de que o grande público ainda tem um pé atrás com filmes que não dosam sua carga de fantasia e exagero. Por conta disso, talvez demore mais alguns anos para vermos outra obra tão visualmente inventiva nas telonas. Ainda que esse não seja o melhor dos filmes, ele certamente tenta fazer algo de diferente e, pelo menos em alguns campos, se sai muito bem. Só por isso já merece a minha recomendação.
Outras divagações:
Léon
The Fifth Element
The Family
Lucy
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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