Divagações: The Rescuers Down Under

Por ser baseado em uma série de nove livros, suponho que tenha parecido razoavelmente natural para os executivos da Disney que The Resc...

Por ser baseado em uma série de nove livros, suponho que tenha parecido razoavelmente natural para os executivos da Disney que The Rescuers originasse a primeira continuação animada do estúdio. Embora sequências sejam comuns em Hollywood, esse era um movimento novo para a Disney, que estava voltando a investir em suas animações e tinha planos ambiciosos pela frente.

Lançado logo após The Little Mermaid, The Rescuers Down Under faz parte de uma fase chamada de 'renascimento' do estúdio. Esse período, que foi de 1989 a 1999, foi marcado por grandes sucessos e por um grande primor na qualidade da animação, especialmente pelo uso de computação e de captação digital de imagens, recursos que também agilizavam o moroso processo tradicional.

Infelizmente, esse é o filme com menor sucesso do período – o que também levou as demais sequências do estúdio a serem lançadas diretamente em vídeo –, mas suponho que esse tenha sido um risco previsível e bem calculado. Como o primeiro filme a utilizar muitos dos recursos que seriam posteriormente aperfeiçoados, o resultado final apresenta algumas discrepâncias na qualidade de animação. A cena 'aérea' trazendo o prédio das Nações Unidas é um dos principais exemplos.

Quando eu era criança, mesmo sem saber como expressar isso, lembro que não gostei de The Rescuers Down Under (e fiquei muito chateada, já que era a continuação do meu filme favorito). A verdade é que, além de modernizar a técnica, os diretores Hendel Butoy e Mike Gabriel optaram por 'resolver' certos pontos fracos do anterior, o que acabou descaracterizando essa sequência.

Enquanto The Rescuers tem um clima sombrio, músicas melancólicas e traços que parecem inacabados, sua continuação se passa na ensolarada Austrália, não tem canções e abusa do acabamento digital na colorização dos personagens, em ângulos de câmera e nos cenários. Basicamente, fomos de um filme mais pessoal para uma grande produção, mas mantendo uma estrutura praticamente idêntica à original e sem grandes surpresas na forma como a história é contada.

Na trama, Cody (Adam Ryen) é um menino que está sempre disposto a ajudar a vida selvagem. Essa característica, no entanto, o coloca em rota de colisão com o traficante de animais McLeach (George C. Scott), que o sequestra em uma tentativa de descobrir o paradeiro de uma rara águia dourada. Ao presenciar o sequestro do menino, um rato aciona a sociedade da qual fazem parte Bernard (Bob Newhart) e Bianca (Eva Gabor), os quais logo partem em busca do menino – dessa vez com a preciosa ajuda do rato australiano Jake (Tristan Rogers).

Aliás, um dos principais méritos de The Rescuers Down Under é ter mantido o elenco original de dubladores. A única exceção trouxe a substituição de Orville (Jim Jordan, falecido dois anos antes do lançamento) por seu irmão, Wilbur (John Candy). Posteriormente, a morte de Eva Gabor, em 1995, impediu o lançamento de uma nova sequência.

Ainda assim, não há como negar que se trata de uma obra muito mais fraca que seu original. Há tentativas de recriar as sequências mais marcantes (inclusive com iluminações não justificadas), mas o filme acaba se limitando a recontar a mesma história com menos criatividade e com uma identidade bastante prejudicada. A trilha sonora de Bruce Broughton cumpre seu papel, mas a produção não sabe utilizá-la tão bem quanto poderia. Para completar, o visual irregular também prejudica o ritmo do filme e impede que o espectador embarque verdadeiramente.

Como praticamente uma vítima dessa fase inicial de aplicação de tecnologia, The Rescuers Down Under sofre com uma qualidade de animação questionável. Na posição de primeira sequência, o filme também pena em não conseguir saber ao certo quais características manter e onde inova. É uma pena que isso tenha acontecido com uma obra pela qual sinto tanto carinho, mas não é algo que possa ser evitado quando se tenta seguir sempre em frente.

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