Divagações: Three Billboards Outside Ebbing, Missouri
6.2.18
Apesar do grande público ainda não conhecer bem o nome de Martin McDonagh, o diretor e roteirista vem entregando obras com um tom e um estilo próprios há algum tempo, conseguindo misturar humor, drama e violência de modo surpreendentemente coerente. Nesse sentido, Three Billboards Outside Ebbing, Missouri representa bem o amadurecimento de McDonagh, elevando as qualidades que fizeram de seus filmes anteriores algo digno de nota, além de consertar boa parte de seus defeitos. O resultado disso é uma obra que ultrapassou minhas expectativas iniciais e que certamente merece o burburinho que vem recebendo.
Passado na cidade de Ebbing, no Missouri, o filme acompanha Mildred Hayes (Frances McDormand), a mãe enlutada de Angela (Kathryn Newton), uma adolescente estuprada e morta alguns meses antes. Inconformada com a ausência de resultados na investigação, Mildred coloca três outdoors em uma estrada da cidade questionando a inação do chefe de polícia, Willoughby (Woody Harrelson). Isso gera repercussões e divide a população local, que revive antigos traumas. E não é preciso dizer que a própria polícia não fica muito feliz em ter seus métodos questionados. Alguns policiais, como Dixon (Sam Rockwell), estão mais do que dispostos a agir para resolver a situação com as próprias mãos.
Não é preciso dizer que Three Billboards Outside Ebbing, Missouri é um filme que trata de assuntos inerentemente pesados, como dor, morte e luto, além de dar pinceladas em outros temas igualmente densos que vão surgindo em certos momentos da trama. Porém, o filme não se limita em ser apenas o drama de uma mãe em busca de justiça, afinal, fica claro que esse ímpeto de Mildred não vai resolver a questão ou encontrar o culpado pela morte da sua filha – sendo apenas um gesto de frustração e desamparo.
Assim, o longa-metragem é muito mais sobre os conflitos e as interações dos personagens diante daquela determinada situação. A história explora mais como eles mudam durante esse processo do que o próprio crime que colocou as coisas em movimento em primeiro lugar. Isso ocorre sem a exigência de um arco narrativo maior ou o compromisso com alguma resolução concreta para os problemas apresentados.
Three Billboards Outside Ebbing, Missouri faz isso de modo bastante sensível e competente, apresentando uma fatia da vida daqueles personagens e das suas histórias; uma vida que nem sempre é trágica e muitas vezes é absurda e engraçada, repleta de momentos que não parecem fazer sentido, mas são como são. Algo que a produção captura muito bem – e que já estava presente nos outros filmes de McDonagh – é um humor que não desqualifica o drama ou empobrece a narrativa, mas a complementa de modo muito interessante e crível em relação às motivações dos personagens. Para completar, soma-se a isso o bom comentário social e as subtramas bem trabalhadas, deixando bem claro o cuidado com que o roteiro foi escrito.
Claro que isso não valeria de muita coisa sem o excelente trabalho do elenco. Frances McDormand está fenomenal, ainda que a personagem amargue um tom agressivo e melancólico durante o filme inteiro. Os coadjuvantes também são todos muito bons, com especial atenção para Woody Harrelson e Sam Rockwell, que conseguem ser tanto antagonistas quanto personagens que o público entende e com os quais pode empatizar. O personagem de Rockwell, que à primeira vista não passa de alguém detestável, sobretudo, torna-se muito mais do que isso no decorrer da trama – sem, contudo, mudar sua essência. Por fim, Lucas Hedges, mesmo com pouco tempo de tela, também consegue dar uma performance emocional e vem se mostrando um ator de muito potencial.
Talvez o filme possa ser criticado pela direção um pouco óbvia demais (qualidade que o roteiro certamente não divide), mas o bom trabalho dos atores acaba compensando nesse quesito. Não acho que esse é um filme que vá agradar a todos, já que sua natureza satírica pode ser vista por muitos como algo de mal gosto. Mas Three Billboards Outside Ebbing, Missouri tem tudo para agradar quem gostou de In Bruges e/ou aprecia os filmes dos irmãos Coen que seguem pela mesma veia, como Fargo, também estrelado por Frances McDormand.
Outras divagações:
In Bruges
Seven Psychopaths
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
Passado na cidade de Ebbing, no Missouri, o filme acompanha Mildred Hayes (Frances McDormand), a mãe enlutada de Angela (Kathryn Newton), uma adolescente estuprada e morta alguns meses antes. Inconformada com a ausência de resultados na investigação, Mildred coloca três outdoors em uma estrada da cidade questionando a inação do chefe de polícia, Willoughby (Woody Harrelson). Isso gera repercussões e divide a população local, que revive antigos traumas. E não é preciso dizer que a própria polícia não fica muito feliz em ter seus métodos questionados. Alguns policiais, como Dixon (Sam Rockwell), estão mais do que dispostos a agir para resolver a situação com as próprias mãos.
Não é preciso dizer que Three Billboards Outside Ebbing, Missouri é um filme que trata de assuntos inerentemente pesados, como dor, morte e luto, além de dar pinceladas em outros temas igualmente densos que vão surgindo em certos momentos da trama. Porém, o filme não se limita em ser apenas o drama de uma mãe em busca de justiça, afinal, fica claro que esse ímpeto de Mildred não vai resolver a questão ou encontrar o culpado pela morte da sua filha – sendo apenas um gesto de frustração e desamparo.
Assim, o longa-metragem é muito mais sobre os conflitos e as interações dos personagens diante daquela determinada situação. A história explora mais como eles mudam durante esse processo do que o próprio crime que colocou as coisas em movimento em primeiro lugar. Isso ocorre sem a exigência de um arco narrativo maior ou o compromisso com alguma resolução concreta para os problemas apresentados.
Three Billboards Outside Ebbing, Missouri faz isso de modo bastante sensível e competente, apresentando uma fatia da vida daqueles personagens e das suas histórias; uma vida que nem sempre é trágica e muitas vezes é absurda e engraçada, repleta de momentos que não parecem fazer sentido, mas são como são. Algo que a produção captura muito bem – e que já estava presente nos outros filmes de McDonagh – é um humor que não desqualifica o drama ou empobrece a narrativa, mas a complementa de modo muito interessante e crível em relação às motivações dos personagens. Para completar, soma-se a isso o bom comentário social e as subtramas bem trabalhadas, deixando bem claro o cuidado com que o roteiro foi escrito.
Claro que isso não valeria de muita coisa sem o excelente trabalho do elenco. Frances McDormand está fenomenal, ainda que a personagem amargue um tom agressivo e melancólico durante o filme inteiro. Os coadjuvantes também são todos muito bons, com especial atenção para Woody Harrelson e Sam Rockwell, que conseguem ser tanto antagonistas quanto personagens que o público entende e com os quais pode empatizar. O personagem de Rockwell, que à primeira vista não passa de alguém detestável, sobretudo, torna-se muito mais do que isso no decorrer da trama – sem, contudo, mudar sua essência. Por fim, Lucas Hedges, mesmo com pouco tempo de tela, também consegue dar uma performance emocional e vem se mostrando um ator de muito potencial.
Talvez o filme possa ser criticado pela direção um pouco óbvia demais (qualidade que o roteiro certamente não divide), mas o bom trabalho dos atores acaba compensando nesse quesito. Não acho que esse é um filme que vá agradar a todos, já que sua natureza satírica pode ser vista por muitos como algo de mal gosto. Mas Three Billboards Outside Ebbing, Missouri tem tudo para agradar quem gostou de In Bruges e/ou aprecia os filmes dos irmãos Coen que seguem pela mesma veia, como Fargo, também estrelado por Frances McDormand.
Outras divagações:
In Bruges
Seven Psychopaths
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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