Divagações: Caché

Já faz um bom tempo que me indicaram via Twitter o filme Caché – tanto tempo que não consegui mais localizar o comentário entre as ment...

Já faz um bom tempo que me indicaram via Twitter o filme Caché – tanto tempo que não consegui mais localizar o comentário entre as mentions. Na época, cheguei a alugar o filme, mas acabei não vendo. Não cometam o meu erro! É uma obra com méritos demais para permanecer ‘desassistida’.

A história acontece ao redor de Georges Laurent (Daniel Auteuil), sua mulher Anne (Juliette Binoche) e seu filho Pierrot (Lester Makedonsky). Eles são uma família de classe média rodeada por livros, já que Georges possui um programa sobre literatura na televisão e Anne trabalha como editora. No entanto, o que os assusta aparece via televisão. Eles começam a receber vídeos, ocasionalmente embrulhados em perturbadores desenhos infantis, que mostram a casa sendo vigiada. Com o passar do tempo, as imagens mostram também a casa da infância de Georges e o apartamento onde vive um antigo conhecido dele, Majid (Maurice Bénichou), um homem com motivos para se vingar, mas que não parece estar por trás dos misteriosos vídeos.

Como diretor e roteirista, Michael Haneke escolheu uma forma interessante de contar esse suspense. As câmeras são paradas e a música é praticamente inexistente, tornando o próprio filme muito similar às imagens de vigilância. Às vezes, só é perceptível que aquela cena não faz parte da narrativa principal quando os personagens começam a voltar a fita. O mistério e a tensão crescem juntos, pois as relações entre os personagens vão se deteriorando e todos eles se tornam cada vez menos confiáveis.

O Georges de Daniel Auteuil é um homem repleto de segredos, com medo de seu passado e que mente para a própria esposa. Aparentemente equilibrada, a personagem de Juliette Binoche começa a mostrar suas fraquezas à medida que as histórias do marido começam a ser desmentidas pelos vídeos. Embora seja incapaz de demonstrar afeto para Georges, ela se aproxima do amigo e chefe Pierre (Daniel Duval), aumentando ainda mais a rebeldia aparentemente sem causa de seu filho.

O descontentamento com a polícia, as informações ocultas, as mentiras que surgem por todos os lados tornam Caché um filme cheio de mistérios. Parte do prazer em assisti-lo está em procurar por soluções, fazendo os olhos navegarem por detalhes e os ouvidos se atentarem para cada palavra. A cena final talvez seja um dos melhores exemplos disso, quando novos elementos continuam a ser acrescentados.

A verdade é que, com o apoio do excelente elenco, a curiosidade do espectador é levada para as alturas enquanto o mistério se torna cada vez mais inexplicável. O detalhe é que o filme não se preocupa em fornecer uma solução satisfatória, o que pode desagradar a alguns, mas mantém a sensação de ‘quero mais’ até o último instante (e até depois dele). É preciso ter em mente que se trata de um filme francês para adultos, assim, não dá para esperar o mesmo de uma produção comercial estadunidense. É uma experiência diferenciada e válida.

A propósito, continuem me indicando filmes! Prometo que na próxima vez não vou demorar tanto tempo para assistir.

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