Divagações: Last Vegas

Mesmo com um trailer que nem de longe inspirava confiança, Last Vegas parecia ter alguma qualidade oculta capaz de convencer um elenco m...

Mesmo com um trailer que nem de longe inspirava confiança, Last Vegas parecia ter alguma qualidade oculta capaz de convencer um elenco mais do que premiado – sete Oscars para cinco atores – a apostar suas fichas em uma versão geriátrica de The Hangover. O que era ainda mais difícil de acreditar levando em conta que tanto o diretor, Jon Turteltaub, quando o roteirista, Dan Fogelman, não ostentavam algo que se possa chamar de uma brilhante carreira.

Felizmente, Last Vegas se mostrou uma grata surpresa, ficando longe daqueles fracassos homéricos que até mesmo os grandes astros se metem de vez em quando. Compensando a completa ausência de surpresas com uma boa química, o filme entrega uma história bacana e uma mensagem mais pertinente do que nunca sobre o envelhecimento.

Billy (Michael Douglas), Paddy (Robert De Niro), Archie (Morgan Freeman) e Sam (Kevin Kline) cresceram juntos nas ruas de Nova York, porém, com o passar das décadas o grupo envelheceu e se distanciou. Quando Billy finalmente decide se casar – com uma mulher com metade da sua idade (para a surpresa de todos), seus amigos resolvem fazer sua despedida de solteiro em Las Vegas, como forma de reunir o antigo grupo, escapar da rotina e resolver alguns ressentimentos pendentes entre Paddy e Billy.

Talvez o que mais incomode em Last Vegas seja o excesso de clichês e de piadas com idosos – pode contar, são muitas – e um roteiro que mesmo sendo legal é completamente incapaz de inovar. Além disso, há a previsível distância entre gerações, já que dificilmente imagino que este seja um filme interessante para boa parte dos adolescentes (frequentadores de cinemas) por aí.

Mas, por detrás de uma fachada sem graça, há um produto que consegue se sustentar muito bem. O elenco está afinadíssimo, sabendo como fazer graça dos seus pares, bem como de si mesmos. Michael Douglas consegue ser ao mesmo tempo jurássico e jovem (ao menos em comparação aos colegas), representando bem a relutância em envelhecer. Mary Steenburgen, que também andava sumida, acrescenta um elemento emotivo interessante, mostrando sua bela voz e dando mais liga para uma comédia que tinha tudo para ser completamente vazia.

O resultado final acaba, mesmo que por força das atuações, sendo ao mesmo tempo engraçado e emocionante (só não espere por grandes gargalhadas ou por choradeiras). Last Vegas transforma sua ambientação pouco inspirada e seus clichês em uma forma de se discutir e lidar com as questões básicas dos personagens, dando uma ou duas opiniões pertinentes a respeito dos problemas de se envelhecer e como isso impacta em nós mesmos e na maneira com que nos relacionamos com os outros ao nosso redor.

Para quem consegue tolerar todos os seus óbvios defeitos – ou achar graça ao constatar que os grandes ícones de outrora realmente se deram conta da velhice –, Last Vegas é um filme surpreendentemente agradável, perfeito para uma tarde descompromissada regada a pipoca e refrigerante. Apesar disso, peca um pouco ao se portar de modo tão seguro e carregar na amenidade, podendo decepcionar àqueles que esperavam uma obra a altura do encontro de um elenco tão competente.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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