Divagações: Ender's Game

Asa Butterfield está com 16 anos, uma idade ingrata para o cinema. Nessa faixa mais desengonçada, a maioria dos jovens atores some das t...

Asa Butterfield está com 16 anos, uma idade ingrata para o cinema. Nessa faixa mais desengonçada, a maioria dos jovens atores some das telas e, muitas vezes, fica difícil retomar a carreira. Ele ainda tem aquela carinha de criança, mas já está mais alto que alguns adultos em cena. Felizmente, era justamente por isso que seu personagem pedia – alguém capaz de equilibrar imaturidade, rebeldia e, ao mesmo tempo, inspirar certa admiração. É difícil, mas o menino é bom e conquista o público aos poucos.

Ender's Game se passa em um futuro razoavelmente distante. Há cinquenta anos, a Terra foi invadida por alienígenas muito perigosos, mas um grande soldado, Mazer Rackham (Ben Kingsley), conseguiu salvar a humanidade. A partir disso, desenvolveu-se toda uma cultura de valorização de mártires, com crianças sendo educadas para a guerra. Os mais inteligentes são selecionados para uma formação especial e Ender Wiggin (Asa Butterfield) acaba se destacando em sua turma.

Assim, o menino é selecionado para um programa especial pelo coronel Graff (Harrison Ford), que assume o papel de uma figura paterna pouco confiável. Pressionado por fatores externos e mais interessado no comandante que o menino se tornará que na pessoa em si, ele insiste em testes pesados demais e começa a promover Ender no escalão militar a contra-gosto de sua colega, a major Gwen Anderson (Viola Davis).

Obviamente, toda a atenção está voltada para Ender, mas não se pode negar que ele é um menino comum, muito inteligente (inclusive socialmente), mas com seus defeitos. Como acontece com muitos heróis com habilidades inalcançáveis, só podemos conhecê-lo melhor através de suas relações com os coadjuvantes.

O destaque entre os coadjuvantes de Ender's Game vai para sua irmã, Valentine (Abigail Breslin), que é uma pessoa muito sensível e uma das poucas com quem tem laços afetivos reais; sua colega Petra Arkanian (Hailee Steinfeld), que o ensina a atirar; o irritante chefe de seu pelotão, Bonzo Madrid (Moises Arias, que, a propósito, tem 1,55 m) e alguns outros colegas, com os quais ele desenvolve habilidades de liderança e relacionamento.

Infelizmente, não li o conto original de Orson Scott Card, publicado em 1977, para saber mais detalhes sobre a trama e conferir se a adaptação faz jus ao material original, mas acredito que o resultado final é bom por si só. Por mais que seja difícil embarcar inicialmente no conceito de crianças sendo treinadas para a guerra, acredito que todos já tivemos nossas fantasias infantis de grandeza – e salvar o mundo de um ataque alienígena poderia muito bem ser uma delas.

O universo em que a história se passa não é muito bem explorado porque a trama se concentra em um protagonista inocente e ambicioso, que ainda está abrindo os olhos para o mundo que o cerca. Isso faz com que o filme perca certa profundidade como um todo, mas não deixa de ser uma escolha que valoriza os personagens. A duração de 114 minutos se sustenta por um fio, assim, não acredito que mais elementos poderiam tornar a obra melhor sem a deixar arrastada.

Uma grata surpresa entre os filmes de ficção-científica, Ender's Game deve encontrar um público adolescente interessado, mas pode muito bem ser aproveitado por pessoas mais velhas dispostas a embarcar na trama. O filme é agradável e interessante sem ser pesado, podendo ser acompanhado de um bom balde de pipoca e valer o preço do ingresso – vamos combinar que isso é algo que está cada vez mais difícil com o alto preço das entradas e a baixa qualidade dos blockbusters.

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