Divagações: Sisters
20.1.16
Adolescentes muitas vezes desejam a independência da vida adulta – vide os icônicos Big e 13 Going on 30 –, mas o que pensariam ao se verem quarentões divorciados, desempregados e entediados? Talvez, concordando com Peter Pan, desistissem de crescer e aproveitassem a juventude infinitamente. Em Sisters, essa é a decisão de Kate (Tina Fey) e Maura Ellis (Amy Poehler) quando descobrem que os pais (James Brolin e Dianne Wiest, adoráveis como casal pela segunda vez) venderiam a casa de sua infância.
Na ausência de ‘adultos responsáveis’, as irmãs Ellis resolvem promover uma última festa naquela casa. Os conflitos vividos por elas na grande noite parecem retirados de um filme de high school, como vencer a arquirrival Brinda (Maya Rudolph) e conquistar o mocinho James (Ike Barinholtz). O resultado é algo semelhante à caótica festança do clipe Last Friday Night, de Katy Perry. A principal diferença é que a fase teen já acabou para Kate (não a cantora), Maura e seus amigos há mais de duas décadas, só que elas não parecem se dar conta disso. As duas irmãs são caricaturas de adultos que têm medo de crescer: enquanto a primeira se revolta contra tudo, a segunda, com sua gentileza exagerada, busca a aprovação dos pais.
A dificuldade dos adultos de superar a adolescência se tornou uma tendência atual em filmes de comédia. Adam Sandler, por exemplo, já recorreu ao tema mais de uma vez, como em Grown Ups (só porque estou citando, não significa que vale a pena assistir) e Pixels (bacaninha), por exemplo. O gênero high school dos anos 1990 e 2000 parece ter evoluído nos anos 2010 para uma paródia protagonizada por adultos. Se, em 2004, Fey e Poehler interpretavam uma professora e uma mãe em Mean Girls, doze anos depois elas assumem o papel das próprias adolescentes. Isso talvez diga muito sobre a sociedade americana e até sobre a nossa própria, ainda que essas produções não estejam exatamente preocupadas em oferecer interpretações sociológicas.
Sisters foi escrito por Paula Pell (em sua estreia cinematográfica apesar de ser bem-sucedida no humor televisivo), dirigido por Jason Moore (também mais conhecido por seu trabalho na TV) e protagonizado por duas atrizes vencedoras de Globos de Ouro por participações em séries. Esses dados ajudam a entender o tom da produção. Trata-se de um humor característico dos shows da TV americana, isto é, repleto de situações exageradas contadas no ritmo de esquetes. Se houvesse ao fundo o riso gravado de plateia, até esqueceríamos que estamos no cinema. Com um disparo tão intenso de piadas contra o público, alguma coisa salva e é até possível rir em uma cena ou outra, mas o que predomina é o sorriso amarelo, aquele que concedemos ao amigo chato que se esforça demais.
Para não dizer que não falei das flores, o elenco é constituído por comediantes experientes que conseguem segurar a barra do roteiro fraco, sobretudo os coadjuvantes. Além do mais, é divertido observar o processo de degradação dos personagens e do ambiente no transe coletivo daquela noite, culminando na cena em que todos literalmente chegam à beira do abismo e precisam decidir como vão proceder.
Por outro lado, um grande paradoxo desconta mais alguns pontos da produção: embora se chame Sisters, o filme pouco explora a relação entre Kate e Maura. Dividir os anos de formação e o quarto com alguém não é simples, ainda mais se tratando de garotas, no entanto, essa complexidade não é aproveitada na construção das personagens. A cena em que elas leem os diários antigos só comprova que as meninas Ellis levaram vidas completamente distintas, com pouca interferência entre si, como se tivessem dividido os pais, a casa e nada mais.
Na abordagem da relação fraterna, a comédia Hannah and Her Sisters, também com a maravilhosa Dianne Wiest, consegue um resultado muito mais interessante. Claro que são filmes voltados para públicos diferentes e não se deve julgar uma obra pelo que ela não é. Gregos e troianos, cada qual escolha o seu! Mas, mesmo dentro do gênero da comédia de caricatura, Sisters promete além do que oferece. Tanto que a Alliance of Women Film Journalists o indicou para um prêmio que sintetiza bem a sensação ao fim da sessão: este é um Movie you Wanted to Love, but Just Couldn't (filme que você queria amar, mas simplesmente não pôde).
Outras divagações:
Texto: Suelen Trevizan
Edição: Renata Bossle
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