Divagações: A Monster Calls

A linha entre filmes para crianças e filmes sobre crianças pode ser bem tênue. Já falei um pouco sobre isso em minhas divagações a respeit...

A linha entre filmes para crianças e filmes sobre crianças pode ser bem tênue. Já falei um pouco sobre isso em minhas divagações a respeito de The Secret Garden e acredito que A Monster Calls é mais um desses filmes que as crianças podem assistir e gostar, mas que só um adulto pode compreender em todas as suas sutilezas.

Dirigido por J.A. Bayona, um cineasta que já provou que tem facilidade de levar o público às lágrimas, A Monster Calls conta uma história sobre perda, maturidade e culpa. Parece pesado – e é –, mas a história usa de uma metáfora muito bonita, tornando sua mensagem um pouco mais leve.

Conor (Lewis MacDougall) vive com sua mãe (Felicity Jones) em uma pequena cidade da Inglaterra. Ele é uma criança sozinha, tem problemas de relacionamento na escola e também não se dá bem com a sua avó (Sigourney Weaver). Além disso, o pai do menino (Toby Kebbell) se mudou para os Estados Unidos, onde construiu uma nova família. Mas Conor gosta de desenhar e tem facilidade em se entregar a seu próprio mundo.

A mãe dele está doente há algum tempo e todos os sinais indicam que ela deve falecer em breve. É uma situação triste, todos os dias representam sofrimento e é difícil de lidar. Para Conor, isso é acompanhado por constantes pesadelos e peça presença de um monstro (Liam Neeson), que surge com hora marcada e o obriga a ouvir histórias estranhas, sem mocinhos ou vilões bem definidos.

Obviamente, o monstro existe para ajudar o protagonista a lidar com tudo o que está acontecendo em sua vida. Mas ele não o faz de uma maneira simples e clara. Não há abraços ou carinhos. Como eu disse anteriormente, A Monster Calls não é um filme sobre amor e conforto, mas sobre perda, culpa e um amadurecimento forçado.

Ainda que todo o enfoque esteja no protagonista, essa jornada não é fácil para nenhum dos outros personagens. Em especial, Sigourney Weaver trabalha muito bem com o pouco tempo de tela que lhe é conferido. Ela interpreta uma mulher durona, que já perdeu o marido, está prestes a perder a filha e que não compreende o neto. Mas, ainda que seu caráter seja constante e de difícil acesso para Conor, sua aparência muda drasticamente ao longo do filme, deixando claro o preço que ela está pagando.

Mais do que contar uma história, A Monster Calls acompanha uma jornada emocional, um processo de catarse. A vida do protagonista não gira apenas ao redor de sua mãe doente – inclusive, mal a vemos. Suas interações são amplas, envolvendo o tal monstro (pelo qual ele chama, mas que parece trazer apenas mais raiva), a avó (que ele detesta), o pai (que representa mais uma rejeição) e a escola, com os colegas que abusam fisicamente dele e os professores que oferecem ajuda a uma parede.

Além disso, quando o menino quieto simplesmente explode, ele teme a consequência de seus atos, mas também detesta quando ela não vem. Essa característica da personalidade do protagonista é um detalhe que está presente em todo o filme e que é essencial para a compreensão dos momentos finais, deixando toda a trama ainda mais triste. Também é o que explica o fato de ele ter chamado por um mostro e não, digamos, por um coelho fofinho.

A Monster Calls não necessariamente vai trazer lágrimas para os seus olhos. Ainda assim, ele é profundo e entrega muito mais do que promete. Com esse filme, J.A. Bayona tenta fazer algo como seu próprio El laberinto del fauno e o resultado é digno desse esforço.

Outras divagações:
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