Divagações: The Mummy (2017)

Todo estúdio quer ter o seu universo compartilhado, grandes franquias que rendem milhões e um público cativo no cinema. A Universal , com ...

Todo estúdio quer ter o seu universo compartilhado, grandes franquias que rendem milhões e um público cativo no cinema. A Universal, com seu grande portfólio de muito dos maiores ícones do cinema de monstros, não poderia ficar de fora dessa dança. Com The Mummy, o estúdio dá um pontapé inicial para o chamado ‘dark universe’. O filme não qualquer relação com o blockbuster de 1999 além do nome – e, claro, da múmia.

Nick Morton (Tom Cruise) é um oficial militar americano que nas horas vagas ‘se reapropria’ de artefatos arqueológicos que acha em campo para vender no mercado negro. Em uma de suas peripécias no Iraque ele acaba se deparando com uma estranha tumba egípcia, localizada mais de 1.500 quilômetros da sua região usual. Essa tumba era o objeto de estudo da arqueóloga Jenny Halsey (Annabelle Wallis) que, ao resgatar um sarcófago selado nas profundezas do local, acaba libertando Ahmanet (Sofia Boutella), uma princesa egípcia com poderes sobrenaturais e que retorna do além querendo causar o apocalipse (ou algo do tipo) usando Nick como sacrifício. Perseguidos pela titular múmia, Nick e Jenny vão para Londres, onde encontram com o ‘chefe’ da arqueóloga, o Doutor Henry Jekyll (Russell Crowe), líder de uma misteriosa organização ligada ao sobrenatural.

O maior problema de The Mummy é que ele se mostra ambicioso demais sem dar muitos motivos para que nos importemos com aquele contexto. Ao contrário dos filmes estrelados por Brendan Fraser, que abraçam a breguiçe e a diversão descomprometida, esse filme é sisudo e se leva a sério demais para o seu próprio bem. Apesar dos esforços de Jake Johnson em fazer de seu personagem um bom alívio cômico, sua presença é tão insípida que pouco faz diferença na história, fazendo que a produção não tenha lá muita presença de espírito.

Tom Cruise, sendo Tom Cruise, não é exatamente motivo de empolgação e traz o mesmo de sempre, correndo um pouco, fazendo uma cara de intensidade e tendo pares românticos com metade de sua idade. Porém, mesmo atuando no automático, ele não é o culpado pelos problemas do filme. O pior poderia ter sido evitado se o roteiro fosse mais sólido e inventivo, ao invés de se apoiar em uma história que não traz nada de novo, mas todos esses fatores somados só tem um resultado: The Mummy é um filme chato.

Vale acrescentar que a primeira metade do longa-metragem tem algum potencial, mostrando energia e boas sequências de ação – como as cenas no avião já exploradas a exaustão nos trailers. Entretanto, quando todo o escopo do universo é apresentado, o filme se torna consideravelmente tedioso, com uma história que não faz muito sentido sendo contada de forma apressada.

Ainda pior, toda a trama envolvendo Jekyll e a organização secreta Prodigium falham a mostrar a que vieram, chegando a ter uma participação constrangedora para um grupo que, teoricamente, deveria se especializar em evitar o tipo de problema que é mostrado no filme. Como essa deveria ser a ‘cola’ para todos os monstros se encontrarem, isso não é um bom sinal. Afinal, ficou faltando justamente o elemento que deveria empolgar as pessoas a voltarem ao cinema no futuro.

Ou seja, parece que a Universal não compreendeu que um universo cinemático é parcialmente definido pelo tom de seu primeiro filme, que serve para instituir uma identidade para o conjunto da obra como um todo. Tome como exemplo Kong: Skull Island, que também teve como intenção colocar outros monstros clássicos em um único mundo. Apesar das muitas críticas feitas por quem procurava algo mais complexo, o filme funciona porque é estilizado, divertido e descompromissado, vendendo o conceito de que monstros gigantes vão brigar e isso é incrível de assistir. The Mummy passa longe desse senso de maravilhamento.

Ainda que seja um blockbuster aceitável, The Mummy não pode deixar de ser considerado uma decepção, sendo muito mais fácil julgá-lo pelo que deixou de fazer do que pelo que fez. Talvez ele sirva como mais um aviso de que é necessário mais do que grandes nomes e a promessa de continuações para alavancar um filme e fazer toda uma franquia decolar. Por mais que eu goste da ideia de ver Dracula, o monstro de Frankenstein, a criatura da Lagoa Negra e todos esses nomes em uma mesma trama, de nada adianta se não for algo feito com a paixão necessária.

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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