Livros: Conversas com Kubrick

Confesso que, quando li Conversas com Scorsese , fiquei maravilhada com o livro e com as possibilidades que ele abria para a compreensão ...

Confesso que, quando li Conversas com Scorsese, fiquei maravilhada com o livro e com as possibilidades que ele abria para a compreensão da obra do diretor. Assim, fiquei muito empolgada quando Conversas com Kubrick entrou em pré-venda (foi difícil me segurar e esperar o preço baixar um pouco).

Entretanto, como é comum quando as expectativas são grandes, eu me decepcionei um pouco com a obra de Michel Ciment. Eu já sabia que Stanley Kubrick raramente dava entrevistas, então, fiquei extasiada esperando a transcrição de muitas horas de conversas – só que as coisas não são bem assim. Com prefácio de Martin Scorsese, o livro começa com um texto de ares acadêmicos, que eu mesma já conhecia em partes. Há também textos perceptivelmente datados sobre alguns de seus filmes e entrevistas com pessoas que trabalharam com o diretor.

O que eu não sabia é que se trata da tradução de Kubrick, livro originalmente publicado em 1980 – 19 anos antes da morte do cineasta. A obra, posteriormente, recebeu atualizações em 1987, 1999, 2001, 2004 e 2011, até chegar a sua ‘edição definitiva’, trazida para o mercado brasileiro pela Cosac Naify. Os depoimentos colhidos deixam clara essa multiplicidade de datas, até porque o livro em si não parece ter o menor interesse em esconder esse detalhe. Talvez tenha faltado apenas uma introdução que explique esses pontos.

Com relação às entrevistas com o diretor – sim, existem! –, elas somam pouco mais de 50 páginas e deixam um gosto amargo de que não foram o suficiente, mas todas têm qualidade. Michel Ciment e seus colaboradores souberam tirar muito de cada uma delas, assim como em seus encontros com as pessoas próximas a Stanley Kubrick. Não dá para reclamar do conteúdo do livro de forma alguma, embora o título seja bem enganoso.

De forma geral, o começo do livro aborda a obra do autor como um todo, mas o aprofundamento se dá com relação a alguns filmes, especialmente os quatro últimos: Barry Lyndon, The Shining, Full Metal Jacket e Eyes Wide Shut. Todos são mencionados, é claro, mas a impressão que tenho é de que o autor deu preferência para memórias mais recentes.

Conversas com Kubrick possui o mesmo acabamento dado às outras obras da ‘série’, com capa dura em papel fosco e miolo em pólen soft. É gostoso de ler, tendo uma diagramação harmoniosa, uma tipografia clara e um número considerável de fotografias, todas impressas em preto e branco. Infelizmente, a obra tem apenas 380 páginas, incluindo filmografia detalhada e uma extensa bibliografia recomendada.

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