Divagações: Filth
26.2.15
Quando eu comecei a realmente gostar de ver filmes, o nome de Irvine Welsh não demorou a chegar aos meus ouvidos. Assim que tomei coragem, fui até a locadora e emprestei Trainspotting. Foi uma das maiores viagens que eu já fiz. Não tinha capacidade de entender tudo aquilo, mas foi absolutamente fascinante – e eu não fiquei com vontade de usar drogas, mas quis mergulhar ainda mais fundo nas possibilidades do cinema.
O fato de Filth ser baseado em uma obra de Welsh, dessa forma, foi o que mais chamou a minha atenção em um primeiro momento. Ainda assim, eu me questionava se o diretor e roteirista Jon S. Baird teria a criatividade necessária para adaptar o material original e criar uma obra nova, única e marcante. Será que ele conseguiria ousar sem copiar? Vamos combinar que é complicado atingir as expectativas quando algo tão bom veio antes da sua vez.
De qualquer modo, a história acompanha o policial Bruce Robertson (James McAvoy). Ele está investigando um caso de assassinato e, ao mesmo tempo, está prestes a conseguir uma promoção. O detalhe é que ele começa a jogar com seus colegas para conseguir o novo cargo e não parece muito preocupado em achar os verdadeiros culpados pelo crime. Ele bebe, usa cocaína compulsivamente e fantasia sobre sua esposa, que o deixou há algum tempo. Quando começamos a acompanhar sua história, Bruce já não está bem, mas não sabemos ainda qual é a completa extensão desse mal.
Para contar essa história, Jon S. Baird corre riscos, mas não muitos. Há palavrões e cenas violentas, mas não tantas quanto você poderia esperar (clique aqui para ver o guia para pais). As alucinações do protagonista, na verdade, são as cenas que mais incomodam, com cabeças de pessoas sendo substituídas por de animais. Aliás, vale a pena prestar atenção nos significados dessas associações, pois elas dizem muito sobre a história.
Aliás, além de apostar nas mensagens ocultas, Filth tem uma trilha sonora escolhida com muito cuidado. As músicas são as principais responsável por tentar garantir um ar cult para a produção, já que, ao menos visualmente, o filme é bem regular. Há alguns bons ângulos de câmera e cenários bem pensados (a sala do psiquiatra, por exemplo), mas a fotografia não surpreende.
O filme também merece ser visto pelo elenco de excelente qualidade. Além de McAvoy, o filme conta com Jamie Bell, Eddie Marsan, Imogen Poots, Emun Elliott, Gary Lewis, Jim Broadbent e Shirley Henderson. Todos eles entregam seu melhor para garantir a credibilidade de uma Escócia corrupta, violenta e cheia de problemas. Pois é... Todos os países tem um lado que eles prefeririam não mostrar.
Filth é realmente sujo, além de ser sarcástico e vulgar. Ao mesmo tempo, parece que o filme não tem coragem de ser realmente transgressor. É uma boa adaptação, mas ainda é incapaz de transmitir toda a loucura de Irvine Welsh para a tela. Ainda assim, por mim, Jon S. Baird pode continuar tentando. Ele é um diretor com apenas dois filmes no currículo (incluindo esse) e está indo bem demais.
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