Divagações: Wild

Em 2013, um diretor praticamente desconhecido chamado Jean-Marc Vallée lançava Dallas Buyers Club , um longa-metragem sensível e muito b...

Em 2013, um diretor praticamente desconhecido chamado Jean-Marc Vallée lançava Dallas Buyers Club, um longa-metragem sensível e muito bonito que fez sucesso na temporada de premiações. Seu mais novo filme, Wild, fez menos estardalhaço, mas conquistou indicações nas duas categorias de atrizes – além de ter roteiro de Nick Hornby, conhecido por sua sensibilidade.

Baseado em fatos reais, Wild conta a história de Cheryl (Reese Witherspoon), uma mulher que decidiu fazer uma trilha gigantesca, caminhando por três meses pelos Estados Unidos. A princípio, apenas essa aventura já renderia um filme, mas o objetivo é aproveitar a solidão e contar a trajetória de vida que a levou até aquele lugar. Muita coisa fica de fora, mas temos flashes de momentos marcantes da infância e do início da vida adulta da protagonista. Em destaque está a relação da moça com a mãe, Bobbi (Laura Dern), que era seu exemplo e seu porto seguro, e com o primeiro marido, Paul (Thomas Sadoski), além do início do envolvimento com drogas e alguns momentos com seu irmão, Leif (Keene McRae).

Embora tenha um elenco razoável, é Reese Witherspoon que domina todo o filme. Há encontros, desencontros e muitas lembranças, mas todos os passos são dados por ela – é uma trilha de autodescobrimento e de aceitação. O detalhe é que, por mais que ela seja uma boa atriz, certos momentos simplesmente não convences. Durante todo o filme, não consigo acreditar que ela realmente esteja sentindo dor ou carregando uma mochila extremamente pesada ou qualquer outra coisa mais física. Ao mesmo tempo, ela consegue passar muito bem as sensações de desejo e de medo, o que talvez seja mais relevante.

Outra coisa que me incomoda um pouco são as lembranças da faculdade. Enquanto sua mãe permanece a mesma de quando ela era criança, a maquiagem e o cabelo de Reese não são capazes de deixá-la com a aparência de uma jovem e brilhante universitária. Assim, a pequena diferença de idade entre as duas atrizes – apenas nove anos – acaba saltando aos olhos.

Por mais que esses aspectos pareçam triviais, eles representam elementos que não podem estar errados em um filme. Algo na mágica de Wild fica quebrada e é difícil embarcar completamente nesse drama. Durante boa parte dos 115 minutos de exibição parece que Cheryl está sempre exagerando, não exatamente sofrendo, de modo que vamos entendendo o que realmente se passa com ela aos poucos. O resultado é que a perdoamos, mas não nos envolvemos com sua história.

Mas Wild também tem muitos pontos positivos. Os maravilhosos cenários externos são muito bem fotografados e ajudam na sensação de que a protagonista está crescendo como pessoa a cada novo desafio. Nas cenas em que eles não aparecem é a vez de Laura Dern brilhar. Ela domina todas as sequências, trazendo simultaneamente personalidade e suavidade para sua personagem. É uma situação interessante: a natureza e a mãe se alternam para transformar a vida de uma filha.

Com muito mais profundidade que boa parte dos filmes sobre jornadas de autodescobrimento – especialmente o infame Eat Pray LoveWild traz uma caminhada que não parece ser tão difícil assim, mas é. Perto dos desafios que a vida já colocou para Cheryl, uma trilha de 1.800 km representa apenas um momento de transição.

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