Divagações: Trumbo
11.2.16
Foi meio sem querer. Há alguns anos, em meio aos extras do DVD de Roman Holiday descobri que existiu uma lista negra em Hollywood durante a Guerra Fria e que pessoas acusadas de serem comunistas ficaram muitos anos sem trabalhos (ou trabalhando sem crédito, vendendo seu suor por muito menos que o preço de mercado). O que mais chocou foi que um grupo de dez roteiristas e diretores acabou indo para a cadeia por ‘desacato ao congresso’. É incrível que algo assim tenha acontecido em um país que tanto valoriza a liberdade – o Partido Comunista, inclusive, sofreu um grande ostracismo, mas nunca foi proibido.
O verdadeiro roteirista de Roman Holiday, que só conseguiu ter seu nome oficialmente creditado pela Writers Guild of America em 2011, é Dalton Trumbo. Em sua página no Internet Movie DataBase (IMDb), mais de 15 títulos do período que foram lançados sem crédito ou com pseudônimos passaram a ser ligados a ele, incluindo The Brave One, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro.
Em Trumbo, o roteirista – também autor de Spartacus – é interpretado por Bryan Cranston. Ele é apresentado como um homem rico, idealista e sempre pronto a dar uma resposta rápida e esperta. Mesmo sendo a favor das greves dos trabalhadores, ele não se importa de ser bem pago ou de conviver com os luxos de Hollywood. Ainda assim, quando é chamado para depor perante o congresso, está disposto a arriscar tudo o que tem para ver garantido seu direito de discordar. E ele vai para a cadeia por isso.
Como tudo gira em torno do protagonista, o filme alterna entre seus dois mundos. Um é sua família, formada pela esposa, Cleo (Diane Lane), e três filhos. Mesmo sem dividirem as mesmas crenças políticas, eles enfrentam tudo de cabeça erguida – e continuam a depender financeiramente do escritor. A medida que a história avança, a filha mais velha, Niki (Elle Fanning), ganha destaque com suas próprias lutas, como a de garantir direitos iguais para a comunidade negra.
Já Hollywood é representada por atores como Edward G. Robinson (Michael Stuhlbarg), John Wayne (David James Elliott), Hedda Hopper (Helen Mirren) e Kirk Douglas (Dean O'Gorman); por produtores como Louis B. Mayer (Richard Portnow) e Frank King (John Goodman); por roteiristas como Arlen Hird (Louis C.K.) e Ian McLellan Hunter (Alan Tudyk); e por diretores como Buddy Ross (Roger Bart) e Otto Preminger (Christian Berkel). Alguns são nomes reais, outros são personagens fictícios que representam diversas personalidades. Alguns são comunistas, outros apenas simpatizantes, vários são democratas e há até quem simplesmente não se importe.
Por meio de um roteiro eficiente (assinado por John McNamara), Trumbo consegue trazer muita coisa para o filme. É possível entender a perseguição aos comunistas, quais são as crenças do protagonista e como o contexto político começa a mudar. O personagem principal também ganha camadas quando observamos tanto suas relações familiares quanto profissionais. Ao mesmo tempo, isso implica em não haver nenhum coadjuvante bem desenvolvido ou qualquer descanso do protagonista. Gostando ou não de Dalton Trumbo, o público está absolutamente preso a ele.
Como interpretação de uma época e registro de uma personalidade, a produção cumpre seu objetivo com maestria. Ao mesmo tempo, falta uma paixão, um desejo de lutar por algo maior. Tudo se resume a uma estranha luta pela sobrevivência financeira onde não se pode perder a dignidade ou a convicção.
Quem não tem interesse pelos personagens de Hollywood, pelo contexto histórico da Guerra Fria ou pela cultura dos Estados Unidos, vai sair do cinema com a sensação de que perdeu duas horas com uma narrativa simples e linear. No fim das contas, Trumbo tem muito o que mostrar, mas apenas para quem já chega sabendo o que quer ver.
O verdadeiro roteirista de Roman Holiday, que só conseguiu ter seu nome oficialmente creditado pela Writers Guild of America em 2011, é Dalton Trumbo. Em sua página no Internet Movie DataBase (IMDb), mais de 15 títulos do período que foram lançados sem crédito ou com pseudônimos passaram a ser ligados a ele, incluindo The Brave One, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro.
Em Trumbo, o roteirista – também autor de Spartacus – é interpretado por Bryan Cranston. Ele é apresentado como um homem rico, idealista e sempre pronto a dar uma resposta rápida e esperta. Mesmo sendo a favor das greves dos trabalhadores, ele não se importa de ser bem pago ou de conviver com os luxos de Hollywood. Ainda assim, quando é chamado para depor perante o congresso, está disposto a arriscar tudo o que tem para ver garantido seu direito de discordar. E ele vai para a cadeia por isso.
Como tudo gira em torno do protagonista, o filme alterna entre seus dois mundos. Um é sua família, formada pela esposa, Cleo (Diane Lane), e três filhos. Mesmo sem dividirem as mesmas crenças políticas, eles enfrentam tudo de cabeça erguida – e continuam a depender financeiramente do escritor. A medida que a história avança, a filha mais velha, Niki (Elle Fanning), ganha destaque com suas próprias lutas, como a de garantir direitos iguais para a comunidade negra.
Já Hollywood é representada por atores como Edward G. Robinson (Michael Stuhlbarg), John Wayne (David James Elliott), Hedda Hopper (Helen Mirren) e Kirk Douglas (Dean O'Gorman); por produtores como Louis B. Mayer (Richard Portnow) e Frank King (John Goodman); por roteiristas como Arlen Hird (Louis C.K.) e Ian McLellan Hunter (Alan Tudyk); e por diretores como Buddy Ross (Roger Bart) e Otto Preminger (Christian Berkel). Alguns são nomes reais, outros são personagens fictícios que representam diversas personalidades. Alguns são comunistas, outros apenas simpatizantes, vários são democratas e há até quem simplesmente não se importe.
Por meio de um roteiro eficiente (assinado por John McNamara), Trumbo consegue trazer muita coisa para o filme. É possível entender a perseguição aos comunistas, quais são as crenças do protagonista e como o contexto político começa a mudar. O personagem principal também ganha camadas quando observamos tanto suas relações familiares quanto profissionais. Ao mesmo tempo, isso implica em não haver nenhum coadjuvante bem desenvolvido ou qualquer descanso do protagonista. Gostando ou não de Dalton Trumbo, o público está absolutamente preso a ele.
Como interpretação de uma época e registro de uma personalidade, a produção cumpre seu objetivo com maestria. Ao mesmo tempo, falta uma paixão, um desejo de lutar por algo maior. Tudo se resume a uma estranha luta pela sobrevivência financeira onde não se pode perder a dignidade ou a convicção.
Quem não tem interesse pelos personagens de Hollywood, pelo contexto histórico da Guerra Fria ou pela cultura dos Estados Unidos, vai sair do cinema com a sensação de que perdeu duas horas com uma narrativa simples e linear. No fim das contas, Trumbo tem muito o que mostrar, mas apenas para quem já chega sabendo o que quer ver.
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