Divagações: Cuatro Lunas
15.12.16
É estranho como a sociedade e as pessoas criam grande dilemas pessoais que poderiam passar desapercebidos em outras culturas ou até mesmo em outras residências. Cuatro Lunas é sobre alguns desses impasses e, nesse caso, todos são relacionados com homens homossexuais. São quatro histórias que não chegam a se cruzar, mas se intercalam em uma estrutura narrativa onde cada uma é comparada a uma fase da lua, o que explica o título.
Duas são trajetórias de descobertas. Mauricio (Gabriel Santoyo) tem 11 anos e está começando a se interessar por meninos, o que não é bem recebido em sua igreja, em sua escola e em sua casa. Essa é a parte mais singela e doce do filme, com um protagonista inocente, curioso e, convenhamos, galante a seu próprio modo.
Já Fito (Cesar Ramos) e Leo (Gustavo Egelhaaf) são dois jovens universitários que estão se conhecendo melhor, mas ambos têm suas próprias dificuldades para assumirem o relacionamento perante a família e os amigos. Nesse caso, a escolha do elenco me incomodou um pouco, uma vez que os atores são um pouco mais velhos do que deveriam para os papeis. O andamento também fica prejudicado à medida que a produção vai chegando ao final, não se intercalando bem com as demais tramas.
As outras duas histórias envolvem dramas mais maduros. Hugo (Antonio Velázquez) e Andrés (Alejandro de La Madrid) estão juntos há muitos anos, mas o relacionamento começa a passar por uma grave crise. Assim, esse é um relacionamento de fácil identificação para um público mais amplo, sendo uma das histórias mais simples e eficientes do longa-metragem.
Por fim, Joaquín Cobo (Alonso Echánove) é um senhor casado que se encanta pelo misterioso Gilberto (Alejandro Belmonte), chegando a desviar dinheiro da comemoração natalina familiar para pagar por seus serviços. Com o tempo, no entanto, os dois desenvolvem uma espécie de amizade. Ainda que, nesse caso, a trama seja um pouco fraca, esses são os personagens mais complexos e interessantes do filme, o que gera um bom equilíbrio.
Juntas, essas quatro histórias fazem de Cuatro Lunas um filme repleto de altos e baixos, com um ritmo irregular. Com tantos personagens, a produção permite diferentes graus de identificação, mas também fica a sensação de que certos detalhes poderiam ser melhor explorados e renderiam melhor em diferentes circunstâncias. Ainda assim, a produção é competente naquilo a que se propôs, trazendo diversos dilemas e criando um quadro amplo sobre um grupo específico.
A produção é o primeiro longa-metragem do diretor e roteirista Sergio Tovar Velarde. Considerando isso, eu dou um devido desconto não só para o ritmo, mas também para o visual que carece de um aspecto mais autoral (minha primeira impressão, aliás, foi de que Cuatro Lunas se parecia com uma novela, o que não é exatamente algo legal de se pensar). Acrescentando que se trata de um filme mexicano com um orçamento bem limitado, o desconto não só fica maior como passo a considerar que o resultado é bem bom para as circunstâncias. Ou seja, essa é uma estreia que cria expectativas positivas para o futuro.
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