Divagações: Lucy

Já faz algum tempo que os filmes de ação e ficção científica estão se desdobrando com premissas mirabolantes e tramas cada vez mais comple...

Já faz algum tempo que os filmes de ação e ficção científica estão se desdobrando com premissas mirabolantes e tramas cada vez mais complexas, cheias de reviravoltas e de conversas científicas muito rápidas que parecem fazer sentido (se você não pensar muito sobre o que elas realmente querem dizer). Nesse contexto, dar de cara com Lucy pode até dar uma sensação de alívio. O filme tem um fiapo de história que é muito simples e linear, acompanhado por uma premissa assumidamente absurda e nem um pouco preocupada em ter conexão com a vida real.

Lucy (Scarlett Johansson) é uma moça comum que foi forçada por um cara (Pilou Asbæk) – que ela conheceu uma semana antes, diga-se de passagem – a levar uma maleta para um hotel e entregá-la a um tal de Jang (Min-sik Choi). O destinatário, contudo, não ficou feliz com a troca e decidiu sequestrar a moça. Na maleta havia um novo tipo de droga e Lucy, de repente, se vê participante de um time de mulas, com uma amostra considerável da substância tendo sido cirurgicamente colocada dentre de seu próprio corpo. Contudo, o saco se rompe e a droga vai parar diretamente em sua corrente sanguínea, fazendo com que Lucy desbloqueie habilidades em seu cérebro, aproximando-se aos poucos – mas de forma consideravelmente rápida – do uso de 100% da capacidade de sua massa cinzenta.

Para entendermos o que isso significa e exatamente o que ela pode fazer, somos apresentados também a Norman (Morgan Freeman), um pesquisador que estuda o cérebro e afirma que nós usamos apenas 10% de sua capacidade (a propósito, isso não é verdade). Em seus estudos, ele tentou prever o que aconteceria se pudéssemos ampliar esse uso, identificando potenciais habilidades para cada acréscimo de porcentagem. Entretanto, nem ele sabe o que o controle total poderia trazer.

Mas não se preocupe muito em engolir o que está escrito nos dois parágrafos acima. A história envolve uma moça que foi sequestrada, ganhou habilidades especiais e decidiu se vingar, ao mesmo tempo em que busca alguém que entenda o que aconteceu com ela e confunde a cabeça de um policial bem-intencionado (Amr Waked).

Como se trata de uma produção de Luc Besson, o absurdo da premissa é realmente só parte do cenário. E um cenário muito interessante visualmente, incluindo boa parte das sequências em Taiwan (ainda que os vilões estejam falando em coreano). Também há toda uma brincadeira metafórica, com cenas intercaladas com obras de arte ou filmagens da vida animal – mas é uma pena que isso acabe sendo abandonado à medida que a correria se torna mais intensa.

Aliás, a perseguição não é exatamente justa, uma vez que a protagonista realmente está além da competição. Mesmo assim, vale a pena ver os criminosos (todos devidamente engravatados) tentarem. O grande mistério fica mesmo por conta da porcentagem crescente – indicando quanto do cérebro da protagonista está sendo acessado por ela – e do que vai acontecer quando o número chegar em 100%.

É bem provável que Lucy decepcione quem busca por uma ficção científica séria (afinal, o filme realmente não é isso) ou por grandes momentos de ação. Mas o longa-metragem compensa a seu próprio modo, com uma protagonista forte e capaz de qualquer coisa para atingir seus objetivos. Scarlett Johansson está perfeita no papel, conseguindo alternar bem entre a mocinha acuada e a mulher poderosa, ao mesmo tempo em que mantém sensibilidade suficiente para que o público não se desconecte totalmente da personagem.

Não é preciso desligar o cérebro para assistir ao filme, mas seria bom ter uma companhia divertida e trazer a pipoca para a sala.

Outras divagações:
Léon
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